quinta-feira, 14 de março de 2019

Especialista que estará no Educação 360 Jovem Tech defende uso do celular em aula

Especialista que estará no Educação 360 Jovem Tech defende uso do celular em aula







Tornar o ensino mais interessante é meta fundamental de grande parte das redes de ensino. A tecnologia pode ser forte aliada nesse processo, mas, em muitos casos, o uso dessas ferramentas não tem sido eficaz. De acordo com Miguel Thompson, diretor executivo do Instituto Singularidades, reverter esse quadro passa por uma questão central: formar professores para que eles desenvolvam metodologias adequadas à linguagem das novas mídias. Thompson discutirá o tema na mesa “ O professor do ensino médio”, no Educação 360 Jovem Tech, na próxima sexta-feira, no Museu do Amanhã. O evento é uma realização dos jornais EXTRA e O Globo, com patrocínio de Sesi e Colégio pH, apoio institucional de Instituto Inspirare e apoio de TV Globo, Canal Futura, TechTudo, Revista Galileu, Unesco e Unicef.
Muitas redes de ensino investiram pesado em novas tecnologias, mas os resultados na aprendizagem não vieram, por quê?
Muitos professores não estão acostumados com novas tecnologias, não conhecem algumas mídias. Mas há, sobretudo, uma questão de desenvolvimento de práticas, métodos e didáticas para esses aparelhos. Não é falta de hardware nem de software, é falta de linguagem. Assim como biologia e física são linguagens, esses ambientes também têm linguagens diferentes. Mais que o uso da lousa eletrônica, a mensagem que vai ser usada nela tem que ser trabalhada.
Como treinar os professores para isso?
É importante começar a transformar didáticas em elementos de entretenimento: games, cartoons, memes... Observar como a meninada está usando essa linguagem nas redes sociais para produzir riso, reação e indignação. Ainda temos um modelo muito antigo de formação do professor, muito literário e expositivo. É preciso aprender com as mídias sociais e com o mundo do entretenimento. O mundo da educação tem que entender o que faz um aluno ficar dez horas na frente de uma tela assistindo a um seriado. Sugiro que possamos trazer esses roteiristas para o mundo da formação de professores. A formação de professores tem que aprender com a Netflix. Gasta-se muito dinheiro com eventos presenciais, mas, se existissem políticas que unificassem essas formações e investissem na transposição do conteúdo sob influência dos seriados, tenho certeza de que teríamos uma formação mais eficaz.
Que elementos esses produtos trazem que captam a atenção?
As séries trazem iscas de interesse e enredos magnéticos. No ambiente online é possível fazer muitas outras coisas no percurso de formação. É possível trabalhar um vídeo, um game, um infográfico. Trazer as múltiplas inteligências para uma concepção de seriado e diversificar ferramentas de linguagem num único curso que não canse o professor. A gente tem que aprender com outros setores como trabalhar com essa mídia online, que pode ser reproduzida em escala, para que possamos formar os docentes.
Como o Brasil está no cenário mundial no que diz respeito ao uso eficaz da tecnologia?
De forma geral, o professorado não é um segmento muito acostumado às novas tecnologias. Mas a gente está em pé de igualdade com o mundo. No Brasil, tem mais celular do que gente. Isso não é um fenômeno de muitas nações. Somos um povo afeito à tecnologia, e isso é uma oportunidade. Mas temos alguns problemas, como conexão online. É muito comum professor que não tem nem e-mail. Num programa de formação de professor, minha sugestão é que haja um grupo de apoio para ajudar os professores a terem intimidade com esses aparelhos. Temos problemas de infraestrutura, boa parte das escolas não têm wi-fi, conexão. Mas temos experiências boas de ensino à distância, como telecurso na Amazônia.
Em um país onde há escolas que não têm sequer banheiro, como reproduzir em escala uma realidade com tecnologia presente?
Não adianta ficar comprando computador, tem que investir em conectividade. Os laboratórios educacionais de informática ficam fechados, às vezes por não haver técnico. Viram depósitos. É preciso tirar da cabeça a ideia de comprar um parque tecnológico. Se houver wi-fi decente, os alunos trarão os aparelhos à escola. Se soubermos usar o celular, traremos para a escola uma estratégia muito mais barata de inclusão online. Uma escola não ter banheiro é horrível e devemos investir nisso, ao mesmo tempo, devemos investir na conectividade, que traz um aumento de aprendizado.
Num mundo hiperconectado, como o professor atrai o aluno para a sala de aula?
É preciso desmistificar o uso do celular. Muitas redes o proíbem. O estudante está em casa com todos esses aparelhos. Aí, entra na escola e é como se estivesse na caverna. Sugiro que primeiro a gente insista, a partir dos 13 anos, no conceito de que o aluno traga seu próprio aparelho, para que seja usado como ferramenta, e pare de comprar computadores. Sugerimos que a escola invista em conectividade, que abra laboratórios educacionais que gerem metodologia focada no celular. O professor muitas vezes não usa, e, mesmo quando é permitido, o aluno perde interesse. O celular é uma plataforma multimodal, tem gravador, vídeo, máquina fotográfica. O professor pode, por exemplo, criar um Facebook do Darwin, do Galileu, usar as mídias sociais como elemento intermediário para produção de conhecimento. Está mais do que na hora de começar a usar celular como ferramenta da aprendizagem.
Como sanar esses problemas?
Estamos vivendo um ótimo momento, porque descobriu-se a centralidade do professor no processo de ensino e aprendizagem. Isso é recente. Antigamente falava-se em material didático, projeto pedagógico, tecnologia. Temos que aproveitar a onda da implementação da Base Nacional Comum Curricular e desenvolver ferramentas online para ajudar a produzir conhecimento. Trazer pessoas que trabalham com game, séries de televisão, marketing e mídias. Se começarmos a abrir espaço para esses agentes que conhecem muito a cultura digital, vamos formar professor usando essas ferramentas e ele vai se encantar. Se ele conseguir usar essas ferramentas para se formar e ele vai entender que também é um meio para formar seus alunos. O mundo digital na mão das crianças é intuitivo. Se a escola disponibilizar a conectividade, jogar na mão deles o aparelho, construir a metogologia e a linguagem, rapidamente eles aprendem. Essa escola do século 21 não precisa de um espaço físico, todo mundo pode aprender em qualquer lugar.
Faltas de estrutura e de formação são barreiras
As novas tecnologias ficam de fora da maior parte das salas de aula do Brasil. Seja por falta de estrutura ou por falta de formação adequada dos docentes, a realidade, segundo professores, é bem distante da ideal. Além disso, o descompasso entre as medidas adotadas pelo poder público e as necessidades da escola dificulta a inserção de novas ferramentas. Segundo Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, muitas vezes, as políticas educacionais são traçadas sem consultar a comunidade escolar, o que acaba atrapalhando.
— Os governos colocam o dinheiro da educação em tecnologia, e vêm equipamentos para as escolas. Mas, muitas vezes, a escola não está em condições de recebê-los, porque a rede elétrica não sustenta, não há condições administrativas nem financeiras de manutenção dos equipamentos — diz ele.
Segundo o Censo Escolar 2018, 15% das escolas de ensino médio do país não têm acesso à banda larga, 21,9% não têm laboratório de informática, e 4,9% não têm acesso a qualquer conexão com internet. E professores reclamam da falta de uma estratégia de formação:
— Somos uma categoria com idade média de 44 anos e que precisaria integrar as disciplinas com as novas tecnologias. Os sistemas de ensino querem colocar um profissional para fazer atendimento específico de informática, mas que não dialoga com as outras disciplinas.
Professor de Literatura e Língua Portuguesa do Colégio pH, Jessé Castilho, que também estará do Educação 360 Jovem Tech, reconhece as dificuldades de boa parte dos docentes, mas vive realidade diferente na rede privada. Ele cria exercícios online e, em aula, os estudantes vão respondendo às questões pelo celular. Ao fim, ele gera gráficos mostrando a tendência de respostas e debatendo erros.
— As tecnologias podem promover a autonomia e o protagonismo dos alunos. A gente traz o celular para a aula e fomenta o uso responsável do aparelho.
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O que é
O Educação 360 Jovem Tech é um evento que reúne especialistas e alunos para discutir o uso da tecnologia no ensino médio. O objetivo é dar protagonismo aos jovens, para que possam emitir seu ponto de vista e relatar em termos práticos o impacto da tecnologia na educação.
Quando e onde
Dia 15 de março, a partir das 9h, no Museu do Amanhã (Praça Mauá 1, no Centro).
Transmissão ao vivo
As inscrições estão esgotadas, mas você pode conferir a transmissão ao vivo das palestras nos sites do EXTRA, do Globo e do Canal Futura. Fique atento!
fonte: https://extra.globo.com/noticias/educacao/especialista-que-estara-no-educacao-360-jovem-tech-defende-uso-do-celular-em-aula-23511041.html

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